Venda de Empresa – parte 1
Você
tem intenção de vender a sua empresa? Certamente, deve ter ideia de como
anunciar a venda, apresentar a empresa, negociar com os interessados, tratar
dos pormenores, enfim, tudo que é necessário. Possivelmente tenha escutado
conselhos de algum profissional de negócios, algum consultor, e tomado as
providências de praxe para que a transação se efetive satisfatoriamente para
você. Mas podemos afirmar que, exceto em grandes empresas, poucos empresários pensa,
nessas horas, num detalhe fundamental para o sucesso da negociação: o uso da
tradicional contabilidade para apresentar os números da empresa.
Se
a firma for do tipo familiar, com poucos empregados (p.ex.: armazém, farmácia,
padaria, etc.), a contabilidade tradicional pode ser dispensada, visto que a
negociação de venda geralmente se dá com pessoa física do mesmo ramo; o
comprador, possivelmente, já teria alguma vivência em negócio semelhante e há
um entendimento prático entre as partes.
Para
empresas de médio porte, deve-se preparar um conjunto de informações sobre a
sociedade, organizar os documentos, estabelecer a forma de apresentação da companhia,
etc.
Sabemos
que o comprador se alicerça em dois pilares para análise e tomada de decisão:
a) um componente
abstrato: as informações da empresa nas questões jurídicas, contábeis,
econômicas, financeiras, mercadológicas, etc.;
b) um componente concreto:
visualização ou apresentação geral da companhia (dependências, máquinas,
produtos, instalações, estrutura, localização, etc.).
O
artigo que nos propomos trata unicamente do componente abstrato citado acima. E
aí reside o “x” da questão: credibilidade.
Para
o sucesso da intenção de venda, é aconselhável que você apresente informações
confiáveis, seguras, comprováveis, transparentes. Quanto mais claro e objetivo
for a exposição, mais rápido e com melhor acerto processará a transação.
Neste
artigo, vamos nos deter em como fornecer números da empresa por meio da contabilidade.
Sim, a contabilidade pode ser manipulada a gosto do freguês, pode salientar
números positivos e ocultar os nem tanto, enfim, tudo é possível. Mas, pelo
menos, tem uma vantagem: a forma de apresentação dos dados é padronizada e, portanto,
assimilável por quem fizer uma análise profissional. Em suma, informações
apresentadas pelo modo contábil são preferíveis às planilhas eletrônicas, estas
sim, sujeitas a toda sorte de arranjos, de nebulosidades, etc. Tudo em nome da
credibilidade.
Vamos,
pois, transitar neste artigo pela boa e velha contabilidade:
1. Se
você é como a maioria dos pequenos e médios empresários, a sua contabilidade
provavelmente será terceirizada. Se sim ou não, e se você não conhece os
detalhes de como o seu contador trabalha, faça uma reunião com ele e se inteire
de tudo. Se ele usa somente planilhas eletrônicas, isso será um problema. O
ideal é um sistema informatizado que possui recursos de validação dos dados,
relatórios precisos, gráficos. Um bom contador e uma contabilidade consistente
terão um software específico.
2. Se
o seu contador estiver focado somente no cálculo e pagamento de impostos, preparo
da folha de pagamentos e controles gerais de receitas e despesas, a sua
contabilidade não terá lançamentos sistemáticos de todas as transações.
Possivelmente o contador opera através de somatório de notas fiscais, notas de
despesas, etc., e não por registros das operações. Você, por certo, tem a sua empresa sob a tributação Lucro Presumido e, portanto, acha que não necessita contabilizar todas as despesas, custos, acréscimos patrimoniais, etc. Mas agora que você quer vender a empresa, reconsidere isso. O correto é, para efeitos de transparência nos demonstrativos, atuar como se estivesse sob tributação Lucro Real. Então é conveniente que o contador monte
um Plano de Contas Contábeis (Balanço Patrimonial, Plano de Contas de Custo e Demonstrativo
de Resultados). Você não é obrigado a saber como isso funciona, o seu contador,
sim.
Motivo: você irá apresentar aos possíveis
interessados na sua empresa uma contabilidade nos padrões profissionais. Você, o
seu contador, o comprador e o contador / auditor / consultor / advogado dele,
qualquer pessoa envolvida na negociação de venda e compra entenderá melhor os
números se o formato for compreensível por todos. Nada de planilha eletrônica,
nem um monte de notas fiscais sobre a mesa de reunião, muito menos papéis com
anotações manuais, ou seja, nada de informalidade.
3. Estabeleça
que todas as operações da empresa sejam contabilizadas e demonstradas no modo
contábil acima mencionado. Ás vezes é interessante retomar os movimentos de
meses anteriores e efetuar os registros dentro dessa forma.
Motivo: idem acima.
4. Monte
ou atualize o Demonstrativo de Formação de Preços de seus principais produtos e
serviços.
Motivo: idem tópico anterior.
5. Se
você tiver receitas e despesas não operacionais de valor considerável dentro do
seu mix, solicite ao seu contador
para, ao invés de Plano de Contas Contábeis, desenvolver um Plano de Contas
Operacionais. O seu contador deve dominar esse assunto.
Motivo:
pelo Plano de Contas Operacionais se distingue as movimentações que compõem o
núcleo da empresa daquelas que lhe são acessórias ou ocasionais. Na negociação
de venda e compra, isso facilitará a conversa entre as partes sobre o que
realmente interessa, ou seja, o principal do negócio.
6. Peça
ao seu contador para montar um arquivo mensal com todos os documentos das
operações devidamente contabilizadas. O arquivo deve estar bem organizado, com
boa apresentação, os documentos numerados sequencialmente.
Motivo: na fase final das negociações, o
comprador possivelmente desejará realizar uma auditoria contábil, então você colocará
os arquivos à sua disposição e isso facilitará o processo de venda.
O candidato à compra do negócio irá
valorizar essas suas providências? Não, evidente que não. Por um motivo
simples: esse tipo de organização dos números é condição elementar, básica, imprescindível
para a fase de negociação de venda, não se espera que seja diferente. Talvez
até o comprador não entenda nada de contabilidade e, para ele, não fará
diferença alguma se os dados forem fornecidos de qualquer jeito ou num padrão
contábil. Mas, com relativa certeza podemos dizer que ele irá se assessorar de
um contador, ou de um auditor, ou de um advogado, e aí, para o sucesso da venda,
é aconselhável a disposição dos números dentro do que estabelece as normas
contábeis.
Mas há um outro motivo para se
utilizar das técnicas contábeis, e este a seu favor. É o seguinte: você irá
verificar os números da empresa, dentro das formas tradicionais da
contabilidade, após a venda!
Como assim? Vamos lá. E vamos nos
ater ao mundo real.
É ínfima a possibilidade de você
vender a sua empresa à vista. Na maioria dos casos, dar-se-á uma entrada e
parcelas a serem pagas por vários meses a partir do faturamento da empresa.
Pois bem, se você tem um bom advogado para lhe amparar no contrato de venda e
compra, haverá uma cláusula que lhe permitirá fazer uma espécie de conferência
nos resultados da empresa sob a nova gestão; isso, enquanto durar o prazo dos
pagamentos. Se não houver essa possibilidade, lá pelas tantas o comprador deixa
de saldar alguma parcela com a alegação de que o faturamento foi insuficiente.
A cláusula do contrato deve
estipular que os números sejam apresentados na forma contábil tradicional. Dessa
forma, você tem melhor condição de exercer a sua checagem, pois o ativo e o
passivo estarão claramente expostos, e o resultado demonstrável de modo
consistente. Ou seja, você não será enrolado por planilhas eletrônicas criadas
num formato que, por ser aberto e livre, pode ser confuso ou displicente.
Conclusão: o formato contábil é bom
durante o processo venda e é bom na supervisão após a venda.
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