sábado, 13 de dezembro de 2014

Venda de Empresa – parte 1



Você tem intenção de vender a sua empresa? Certamente, deve ter ideia de como anunciar a venda, apresentar a empresa, negociar com os interessados, tratar dos pormenores, enfim, tudo que é necessário. Possivelmente tenha escutado conselhos de algum profissional de negócios, algum consultor, e tomado as providências de praxe para que a transação se efetive satisfatoriamente para você. Mas podemos afirmar que, exceto em grandes empresas, poucos empresários pensa, nessas horas, num detalhe fundamental para o sucesso da negociação: o uso da tradicional contabilidade para apresentar os números da empresa.
Se a firma for do tipo familiar, com poucos empregados (p.ex.: armazém, farmácia, padaria, etc.), a contabilidade tradicional pode ser dispensada, visto que a negociação de venda geralmente se dá com pessoa física do mesmo ramo; o comprador, possivelmente, já teria alguma vivência em negócio semelhante e há um entendimento prático entre as partes.
Para empresas de médio porte, deve-se preparar um conjunto de informações sobre a sociedade, organizar os documentos, estabelecer a forma de apresentação da companhia, etc.
Sabemos que o comprador se alicerça em dois pilares para análise e tomada de decisão:
a) um componente abstrato: as informações da empresa nas questões jurídicas, contábeis, econômicas, financeiras, mercadológicas, etc.;
b) um componente concreto: visualização ou apresentação geral da companhia (dependências, máquinas, produtos, instalações, estrutura, localização, etc.).
O artigo que nos propomos trata unicamente do componente abstrato citado acima. E aí reside o “x” da questão: credibilidade.
Para o sucesso da intenção de venda, é aconselhável que você apresente informações confiáveis, seguras, comprováveis, transparentes. Quanto mais claro e objetivo for a exposição, mais rápido e com melhor acerto processará a transação.
Neste artigo, vamos nos deter em como fornecer números da empresa por meio da contabilidade. Sim, a contabilidade pode ser manipulada a gosto do freguês, pode salientar números positivos e ocultar os nem tanto, enfim, tudo é possível. Mas, pelo menos, tem uma vantagem: a forma de apresentação dos dados é padronizada e, portanto, assimilável por quem fizer uma análise profissional. Em suma, informações apresentadas pelo modo contábil são preferíveis às planilhas eletrônicas, estas sim, sujeitas a toda sorte de arranjos, de nebulosidades, etc. Tudo em nome da credibilidade.
Vamos, pois, transitar neste artigo pela boa e velha contabilidade:

1.    Se você é como a maioria dos pequenos e médios empresários, a sua contabilidade provavelmente será terceirizada. Se sim ou não, e se você não conhece os detalhes de como o seu contador trabalha, faça uma reunião com ele e se inteire de tudo. Se ele usa somente planilhas eletrônicas, isso será um problema. O ideal é um sistema informatizado que possui recursos de validação dos dados, relatórios precisos, gráficos. Um bom contador e uma contabilidade consistente terão um software específico.

2.    Se o seu contador estiver focado somente no cálculo e pagamento de impostos, preparo da folha de pagamentos e controles gerais de receitas e despesas, a sua contabilidade não terá lançamentos sistemáticos de todas as transações. Possivelmente o contador opera através de somatório de notas fiscais, notas de despesas, etc., e não por registros das operações. Você, por certo, tem a sua empresa sob a tributação Lucro Presumido e, portanto, acha que não necessita contabilizar todas as despesas, custos, acréscimos patrimoniais, etc. Mas agora que você quer vender a empresa, reconsidere isso. O correto é, para efeitos de transparência nos demonstrativos, atuar como se estivesse sob tributação Lucro Real. Então é conveniente que o contador monte um Plano de Contas Contábeis (Balanço Patrimonial, Plano de Contas de Custo e Demonstrativo de Resultados). Você não é obrigado a saber como isso funciona, o seu contador, sim.
Motivo: você irá apresentar aos possíveis interessados na sua empresa uma contabilidade nos padrões profissionais. Você, o seu contador, o comprador e o contador / auditor / consultor / advogado dele, qualquer pessoa envolvida na negociação de venda e compra entenderá melhor os números se o formato for compreensível por todos. Nada de planilha eletrônica, nem um monte de notas fiscais sobre a mesa de reunião, muito menos papéis com anotações manuais, ou seja, nada de informalidade.

3.    Estabeleça que todas as operações da empresa sejam contabilizadas e demonstradas no modo contábil acima mencionado. Ás vezes é interessante retomar os movimentos de meses anteriores e efetuar os registros dentro dessa forma.
Motivo: idem acima.

4.    Monte ou atualize o Demonstrativo de Formação de Preços de seus principais produtos e serviços.
Motivo: idem tópico anterior.

5.    Se você tiver receitas e despesas não operacionais de valor considerável dentro do seu mix, solicite ao seu contador para, ao invés de Plano de Contas Contábeis, desenvolver um Plano de Contas Operacionais. O seu contador deve dominar esse assunto.
Motivo: pelo Plano de Contas Operacionais se distingue as movimentações que compõem o núcleo da empresa daquelas que lhe são acessórias ou ocasionais. Na negociação de venda e compra, isso facilitará a conversa entre as partes sobre o que realmente interessa, ou seja, o principal do negócio.

6.    Peça ao seu contador para montar um arquivo mensal com todos os documentos das operações devidamente contabilizadas. O arquivo deve estar bem organizado, com boa apresentação, os documentos numerados sequencialmente.
Motivo: na fase final das negociações, o comprador possivelmente desejará realizar uma auditoria contábil, então você colocará os arquivos à sua disposição e isso facilitará o processo de venda.

O candidato à compra do negócio irá valorizar essas suas providências? Não, evidente que não. Por um motivo simples: esse tipo de organização dos números é condição elementar, básica, imprescindível para a fase de negociação de venda, não se espera que seja diferente. Talvez até o comprador não entenda nada de contabilidade e, para ele, não fará diferença alguma se os dados forem fornecidos de qualquer jeito ou num padrão contábil. Mas, com relativa certeza podemos dizer que ele irá se assessorar de um contador, ou de um auditor, ou de um advogado, e aí, para o sucesso da venda, é aconselhável a disposição dos números dentro do que estabelece as normas contábeis.
Mas há um outro motivo para se utilizar das técnicas contábeis, e este a seu favor. É o seguinte: você irá verificar os números da empresa, dentro das formas tradicionais da contabilidade, após a venda!
Como assim? Vamos lá. E vamos nos ater ao mundo real.
É ínfima a possibilidade de você vender a sua empresa à vista. Na maioria dos casos, dar-se-á uma entrada e parcelas a serem pagas por vários meses a partir do faturamento da empresa. Pois bem, se você tem um bom advogado para lhe amparar no contrato de venda e compra, haverá uma cláusula que lhe permitirá fazer uma espécie de conferência nos resultados da empresa sob a nova gestão; isso, enquanto durar o prazo dos pagamentos. Se não houver essa possibilidade, lá pelas tantas o comprador deixa de saldar alguma parcela com a alegação de que o faturamento foi insuficiente.
A cláusula do contrato deve estipular que os números sejam apresentados na forma contábil tradicional. Dessa forma, você tem melhor condição de exercer a sua checagem, pois o ativo e o passivo estarão claramente expostos, e o resultado demonstrável de modo consistente. Ou seja, você não será enrolado por planilhas eletrônicas criadas num formato que, por ser aberto e livre, pode ser confuso ou displicente.
Conclusão: o formato contábil é bom durante o processo venda e é bom na supervisão após a venda.


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